terça-feira, 4 de março de 2008

Os Comandos e a Guerra do Ultramar

“Esta é a ditosa pátria minha amada”
Luís de Camões
Lusíadas
Nos últimos meses, têm sido editados vários livros cujo tema é a Guerra do Ultramar. São livros da autoria de antigos combatentes e de jornalistas. Memórias romanceadas, reportagens e trabalhos de investigação. Uns bons outros maus. Uns mais rigorosos, outros menos.
Em alguns desses livros tem sido abordada a intervenção dos Comandos, nos diversos territórios ultramarinos em que combateram.
Em alguns livros, alguns autores, pretendem dar uma imagem negativa dos Comandos, distorcendo factos, descontextualizando situações, fazendo interpretações enviesadas da história, procurando denegrir, atacar, menorizar. Tais textos revelam muitas vezes uma incapacidade de compreender “los hombres en sus circunstancias” como dizia o filósofo espanhol, Ortega e Gasset.
Outros textos revelam, um desconhecimento absoluto de como a guerra, transforma e desumaniza os homens. A guerra é, como diria Wiston Churchil, o último recurso quando falha a diplomacia.
Numa guerra, haverá sempre utilização de meios desproporcionados, excessos, exageros, brutalidade, actos individuais que co-responsabilizam todo o colectivo, seja a companhia, o batalhão ou o exército.
Assim nos ensina a história. Em Hiroxima, ou no desnecessário bombardeamento de Dresden na Alemanha, pela aviação Inglesa que levou Churchil a “esquecer” os “bombardeiros” no “Discurso da Vitória”
Assim foi. Assim é. Assim será.
A Guerra Colonial ou do Ultramar, foi uma guerra. Não foi excepção.
Mas houve um exército de homens, de uma Pátria antiquíssima, que sob uma bandeira, acreditaram nos valores e na história.
Combateram, lutaram e venceram…
Houve abnegação, altruísmo, valentia, entreajuda, solidariedade e heroísmo. E foi assim que os Comandos combateram.
Nessa guerra participaram os nativos dos territórios de Angola, Moçambique e em especial as Companhias de Comandos Africanas, que na Guiné que escreveram das páginas mais honrosas dessa guerra.
Nesse período de guerra (13 anos de 1962 a 1975) em territórios tão vastos, os Comandos, combateram inimigos bem treinados na Argélia, em Cuba na China e na então União Soviética. Inimigos bem armados, (nalguns casos mais bem armados do que o próprio exército Português, como é facto bem conhecido a utilização de mísseis terra ar na guerra da Guiné). Enfrentaram combatentes estrangeiros (cubanos), alguns dos quais foram capturados e se encontravam presos em Portugal em 1974.
O Exército Português e muito em especial os Comandos não têm razão para se envergonhar do “combate” que travaram na guerra de que foram corpo e alma. Têm razões para se orgulhar do seu esforço de guerra, das várias gerações de jovens que na flor da idade saíram das suas terras, deixaram os seus trabalhos e acenaram um adeus às famílias. Mais de três centenas de Comandos tombaram no campo de honra. Os seus nomes estão gravados no memorial do Forte do Bom Sucesso em Belém e no monumento do esforço comando no Regimento de Comandos da Amadora. O seu esforço não foi em vão, enquanto houver memória entre os Homens.
Os Comandos devem pois orgulhar-se desse “combate”. De todos os combates. Na Guiné, em Moçambique e em Angola. Das operações na Quibala Norte (Angola) em 1962 até ao regresso da última companhia de África em 1975. Do primeiro, ao último curso de Comandos. Da primeira à última operação Siroco. De Todos os Grupos de Combate. De Todas as Companhias. De Todos os Batalhões.
Cumpriram as missões que lhe foram confiadas.
Durante a Invasão da Índia Portuguesa em 1961, o Comandante Aragão, do “Afonso de Albuquerque” navio da Marinha Portuguesa de Guerra, disse à tripulação a frase que ficou célebre, antes de ordenar o afundamento do navio.
Assim combateram os Comandos. Pela Pátria! Só pela Pátria! O Comando não “discute as ordens que recebe”
Foram chamados a combater sob a Bandeira de Portugal. Entoaram “A Portuguesa”. Não discutiram as ordens que receberam. Não olharam a regimes ou a credos políticos ou ideológicos. A sua Portugalidade e o seu amor à Pátria foram muito para além da língua portuguesa…
Interiorizaram como seu, um Portugal histórico e do Império. Da Europa até aos confins da Oceânia.
Sobre os Comandos não caiu o anátema dos desertores. Combateram, morreram, foram feridos. Venceram!
E se sobre eles recaiu não pequena parte do esforço de guerra, souberam e puderam ainda após a guerra, bater-se pela existência de um pais livre democrático, quando algumas minorias pretendiam impor-se à maioria, e roubar-nos a Liberdade. Os Comandos não foram e não são enquadráveis em ideologias, em estereótipos em formatos. São na sociedade civil homens socialmente inseridos nos mais diversos grupos políticos, económicos, sociais, profissionais e religiosos. Sem dramas e orgulhosamente Comandos…
Porque assim se fez, se faz e se fará Portugal.
Varela de Matos
*Advogado
Professor Universitário
Director da Associação de Comandos

1 comentário:

Anónimo disse...

venho neste dia desejar-vos uma Páscoa Feliz, no sentimento de irmandade que nos une, reflexo da nossa vivência intemporal e consubstanciada nos altos valores do CÓDIGO COMANDO.

Para todos os COMANDOS e para o nosso camarada Aguiar que fartiu na sua última Missão, grito:
PRESENTE!
MAMA SUME!!